Com o avanço geométrico da tecnologia algorítmica da inteligência artificial, a economia sendo direcionada para os aplicativos de diferentes produtos e nichos de mercado, o papel social e político das redes sociais, os filmes utópicos e distópicos sobre o tema, me provocam a reflexão sobre o FUTURO que o meu biscoitinho (meu filho de quase 3 anos) e a humanidade vão conceber.
Elon Musk, o homem mais rico do planeta, se posicionou em 2017, no World Government Summit, afirmando a necessidade de ter uma renda básica universal para garantir minimamente os bilhões de desempregados que terão seus empregos engolidos pela Inteligência Artificial.
A última obra de Dan Brown, o livro “A Origem”, mistura romance, ficção, filosofia e apresenta um mundo utópico que aguarda quem viver nos anos de 2050. Segundo o autor, os seres humanos e os algoritmos vão se fundir, portanto, não seremos nem humanos, nem máquinas, mas um hibrido entre esses dois polos. O costumeiro personagem desta imersão tecnológica dos humanoides é o professor Robert Langdon, que transita nas principais obras do autor.
O anfitrião de Langdon é o brilhante ex-aluno e futurólogo Edmond Kirsch que ganhou na ficção, fama mundial por fazer previsões audaciosas e invenções de alta tecnologia. Kirsch vai revelar uma incrível revolução no conhecimento que pretende responder a duas perguntas essenciais da vida humana: “De onde viemos e para onde vamos?”. Tenho a impressão que o personagem se remete a Elon Musk.
Dan Brown informa que seu romance foi resultado da pesquisa feita em quatro anos em parceria com uma imensa quantidade de cientistas, historiadores, curadores, eruditos religiosos, futurólogos e organizações que compartilharam seus conhecimentos e ideias. Da nanotecnologia aos algoritmos, passando pela teologia, a arte moderna, e a filosofia para responder sobre esse futuro surpreendente.
O neofascismo e o criacionismo ganham força e expressão social no mundo todo com sua tese bizarra da terra plana e seu modelo social e fundamentalista religioso balizado pelo ódio contra o diferente. Sua mentalidade doentia é alimentada por fake news. No metaverso da loucura, há controvérsias contra a ciência e a democracia. Portanto, o conhecimento que será exposto, encurrala o fanatismo obscurantista e pode ser um farol de esperança ao espirito humano sereno sobre as perspectivas futuristas.
Sobre a pergunta “De onde viemos?”, o autor responde: “nós viemos de lugar nenhum…e de todos os lugares. Viemos das mesmas leis da física que criam a vida por todo o cosmo. Não somos especiais. Existimos com ou sem Deus. Somos o resultado inevitável da entropia. A vida não é o objetivo do Universo. A vida é simplesmente algo que o Universo cria e reproduz para dissipar energia”.
O admirável mundo novo de Dan Brown se chama Technium, o novo reino da tecnologia algorítmica oriundo do apogeu evolucionista tecnológico darwiniano.
“Há meio bilhão de anos, nosso planeta experimentou uma súbita erupção de vida, a Explosão Cambriana, em que a maioria das espécies do planeta surgiu praticamente da noite para o dia. Hoje estamos testemunhando a explosão Cambriana do Technium. Novas espécies de tecnologia nascem diariamente, evoluindo numa velocidade espantosa, e cada nova tecnologia se transforma numa ferramenta para criar outras novas tecnologias. A invenção do computador nos ajudou a construir ferramentas espantosamente novas, desde os smartphones até naves espaciais e cirurgiões robóticos. Estamos testemunhando uma explosão de inovação que acontece mais depressa do que nossa mente pode compreender. E nós somos os criadores desse novo reino: o Technium”.
Seguindo o personagem na obra ficcional, “o professor Langdon avançou o olhar na tela do avançado computador até a marca de 65.000 a.C., onde surgiu uma pequena bolha azul, indicando o Homo sapiens. A bolha cresceu muito devagar, quase de modo imperceptível, até por volta de 1.000 a.C., quando aumentou rápido e então pareceu se expandir exponencialmente. De modo pouco surpreendente, prosseguiu Edmond, no ano 2000, quando este gráfico termina, os humanos são representados como a espécie prevalente no planeta. No entanto, vocês podem ver traços de uma nova bolha aparecendo… aqui. O gráfico deu um zoom mostrando uma minúscula forma preta começando a surgir acima da bolha da humanidade, inchada e azul. Uma nova espécie já entrou em cena, disse Edmond. Langdon viu a bolha preta, mas ela parecia insignificante em comparação com a azul, uma rêmora minúscula nas costas de uma baleia-azul. Se avançarmos no tempo, desde 2000 até os dias atuais, vocês verão que nosso recém chegado já está assim e vem crescendo silenciosamente. O diagrama se ampliou até chegar à data atual, e Langdon sentiu o peito se apertar.
A bolha preta havia se expandido enormemente nas últimas duas décadas. Essa nova espécie é insidiosa, disse Edmond. Ela se propaga de modo exponencial. Expande seu território o tempo todo. E, mais importante, ela evolui…muito mais depressa do que os seres humanos. Edmond olhou de novo para a câmera, com a expressão mortalmente séria. Infelizmente, se eu deixar esta emulação avançar para mostrar o futuro, nem que seja apenas por algumas décadas, é isso que ela revelará. O diagrama avançou de novo, agora mostrando a linha do tempo até 2050”.
“Langdon deu um salto, olhando incrédulo. A linha do tempo mostrava claramente a bolha preta ameaçadora se expandindo numa taxa espantosa. E então, no ano 2050, ela engolia por inteiro a bolha azul da humanidade. Lamento ter de mostrar isso, disse Edmond. Mas, em cada modelo que eu rodei, aconteceu a mesma coisa. A espécie humana evoluía até nosso ponto atual na história e então, muito abruptamente, uma nova espécie se materializava e nos apagava da Terra. Langdon ficou parado diante daquele gráfico horrendo, tentando se lembrar de que era apenas um modelo feito por computador. Sabia que imagens assim tinham o poder de afetar as pessoas num nível visceral, diferentemente dos dados crus, e o diagrama de Edmond tinha um ar de coisa definitiva, como se a extinção humana já fosse um fato consumado. Amigos, disse Edmond, em um tom sombrio, como se fosse o aviso da colisão iminente de um asteroide. Nossa espécie está à beira da extinção. Posso dizer com um grau de certeza muito alto que a raça humana, como conhecemos, não estará aqui em 2050. O tom de Edmond ficou mais sombrio ainda. Se vocês olharem atentamente a simulação, verão que essa espécie não nos apaga por completo. De modo mais preciso… ela nos absorve. Edmond, saúda a futura “singularidade”, o momento em que a inteligência artificial ultrapassaria a humana e as duas se fundiriam em uma só.
Os cientistas e futurólogos que auxiliaram nas informações e conhecimento para a produção da obra, deslocam a angustia gerada por esse conhecimento assustador para encher os leitores de esperança. A ascensão tecnológica cria perspectivas positivas na caminhada humana. O futuro vislumbra ser brilhante.
“Edmond de modo convincente, descreve na obra um futuro em que a tecnologia se tornaria tão barata e disseminada que não existiriam mais ricos e pobres. Um futuro em que as tecnologias ambientais proporcionariam a limpeza dos oceanos poluídos, água potável ilimitada, alimentos cultivados no deserto, doenças mortais com curas, comida nutritiva e acesso à energia limpa para bilhões de pessoas. Seria possível lançar enxames de drones movidos a energia solar que poderiam pairar sobre países em desenvolvimento. Um futuro em que o poder fantástico da internet seria finalmente usado para a educação, mesmo nos cantos mais remotos do planeta e com a inclusão de bilhões dos mais pobres na economia mundial com acesso integral e grátis. Um futuro em que doenças como o câncer estariam erradicadas graças à medicina genômica. Um futuro em que as linhas de montagem robóticas livrariam os trabalhadores de empregos tediosos para que pudessem embarcar em campos novos e mais recompensadores, alguns ainda nem imaginados. E, acima de tudo, um futuro em que tecnologias revolucionárias criariam uma abundância tão grande de recursos fundamentais para a humanidade que as guerras para obtê-los não seriam mais necessárias. Estamos num momento singular da história. Um tempo em que o mundo parece ter virado de cabeça para baixo, e nada é exatamente como imaginávamos.
“Até lá, as mesmas ferramentas que hoje vivem fora do nosso corpo, como smartphones, aparelhos de audição, óculos de leitura, produtos farmacêuticos, estarão incorporadas ao nosso organismo a ponto de não podermos mais ser considerados Homo sapiens. A familiar imagem da progressão em fila do chimpanzé até o homem moderno, ganha uma nova progressão. Num piscar de olhos, vamos nos tornar a próxima página no desenho animado da evolução. E, quando isso acontecer, vamos olhar para o Homo sapiens de hoje como olhamos para o homem de Neandertal. Novas tecnologias, como a cibernética, a inteligência sintética, a criogenia, a engenharia molecular e a realidade virtual, mudarão para sempre o que significa ser humano”.
A leitura do livro é viciante e a visão de mundo que ele esboça é empolgante, porém, no meio do caminho há o ser humano e os interesses de classes, de exploração e de poder. Para isso dar certo, o neofascismo que contamina o mundo precisa ser derrotado, a democracia precisa sair vitoriosa e a burguesia precisa entender que o Estado de Bem Estar social foi a maior conquista da humanidade pra reduzir as diferenças econômicas entre as classes sociais.
Frente ao avanço extraordinário da tecnologia que o livro aborda, as perguntas que ficam são: qual futuro a burguesia pretende bancar, um utópico ou distópico? Uma renda básica universal é suficiente? Sob quais parâmetros e valores? Até porque, sem renda não há consumo, portanto, de nada serve os robôs produzirem barato e em escala. Não custa lembrar também que o financiamento para investir no desenvolvimento de novas tecnologias passa por volumosos bilhões de dólares que saem dos cofres públicos dos diferentes países. Então, o movimento para essa sociedade futurística que se vislumbra será fraterno ou através de uma peleja violenta da luta de classes para impedir a distopia?
Quem viver, verá.