Faça parte do nosso grupo! receba notícias de Joinville e região no whatsapp

OPINIÃO: Para Além da Dicotomia: Esquerda X Direita

Redação, Portal Chuville

06 janeiro 2024

editado em 06 janeiro 2024

Compartilhe no Whats
Arte Gazeta do Povo
Carlos Castro

Opinião por:
Carlos Castro - Jornalista

Vlademir Safatle é um expoente respeitável do pensamento socialista. Numa entrevista que ele deu à página QUEM SOMOS NÓS | Nova Direita por Vladimir Safatle (youtube.com) comungo e muito com ele, mas também divirjo, porém é inegável as possibilidades reflexivas que ele provoca.

Cuba não pode ser criticada sem levar em conta o embargo econômico criminoso imposto pelos EUA. Literalmente, Cuba ficou ilhada e sem qualquer apoio externo após a queda da URSS.

Sobre o debate da democracia direta, Safatle alega que não é dado ao povo, acesso à informação pra tomada de decisões. Mas a Internet é o que exatamente?

No entendimento dele, não tivemos exemplos longevos de democracia direta, que os Sovietes na Rússia se burocratizaram em meses. Não. A Revolução Russa era contra-atacada o tempo todo pela contrarrevolução até conseguir vencê-la. Portanto, não havia como implementar democracia direta num período de guerra civil que durou quatro anos.

Democracia direta só é possível em tempos de paz social. Já pensou democracia direta em governo bolsonarista fascista em uma sociedade com boa parte lobotomizada? Ou de agro-boys financiando o extremismo? Então, muito cuidado com as ideias e as palavras de ordem em momentos como esse que estamos vivendo.

A fala dele de que os operários alemães que votavam na esquerda e mudaram o voto pro Nazismo nos anos 30, contempla o fenômeno que estamos vivendo nos dias atuais.  Como não acreditam mais nas instituições, “estão a procura de uma solução extrema”. Essa constatação é perfeita, porém, a solução não é a que propõe.

Safatle critica a estratégia do PT e dos socialistas no mundo de terem governado com o Centro. Que o preço foi a ida do povo para o extremismo pelo rompimento da confiança política. No meu entendimento, ele tem razão na constatação, mas não na análise. O problema não está em se aliar com o Centro. Isso é uma forma de composição democrática que contempla diferentes e amplos setores sociais. Também é assertivo porque garante a vitória eleitoral e a governabilidade. Porém, o que não pode é enganar sobre o conteúdo programático das mudanças e reformas necessárias que deverão ser implantadas pelo governo. As ideias devem ser ditas e debatidas às claras. Houve muita distorção na práxis programática da esquerda e abandono do trabalho de base, com isso, perderam a conexão com o povo.

Pra dar certo, um governo de Centro-Esquerda democrático deve contemplar a síntese dos interesses dos governados. Lula I e II soube construir isso, através dos Conselhos Populares e suas conferências. Esse foi um dos motivos que lhe permitiu encerrar seu mandato com quase 90% de aprovação. Creio que aí está o X da questão e da solução.

O STF e a estrutura oligárquica judiciária também são criticadas e com razão, mas foi nessa estrutura e usando desse poder que Xandão impediu o Brasil de se tornar uma ditadura fascista bolsonarista, porque tentado foi e algumas vezes. E olha que o método foi juridicamente heterodoxo que virou a Constituição do avesso. Porém, se temos democracia, devemos isso ao Xandão, nosso xerife tupiniquim e ao seu método. No meu entendimento, os democratas não podem ter raciocínio linear. Se a situação é extrema, medidas extremas deverão ser tomadas e foi o que ocorreu.

O tema sobre os evangélicos é complexo. Se há entre 30 e 40% desse público no Brasil, é impossível deixar de dialogar e negociar com os seus líderes. Eles decidem qualquer eleição. Eles são povo também e tem suas demandas. No regime democrático, somos obrigados a compor com eles, mesmo que haja uma parte que tenha mentalidade fundamentalista. Claro que o aceite de suas proposições deve ter o limite republicano.

Marx defendia a revolução socialista para acabar com a sociedade de classes, porém, esse processo não há como não ser sangrento, já que há o outro lado com o poder das armas e dos aparelhos ideológicos. Portanto, vai ter guerra, que leva à destruição da democracia, à radicalização dos líderes e a sectarização. A história já provou que esse método é um erro crasso.

Daí temos também Eduard Bernstein, contemporâneo de Marx e Engels, com a sua teoria do “Socialismo Evolucionário” e com projeto de reformas no capitalismo para avançar sobre o poder. Marx já estava morto quando ele escreveu sua teoria, porém, na elaboração, ele dialogava o tempo todo com Engels obtendo divergências e convergências.

O reformismo teórico de Bernstein, ao final do Século XIX, contribuiu para que o socialismo ganhasse um upgrade organizacional, tornando-se uma potência na Europa com sindicatos gigantescos e partidos poderosos. Os revolucionários perderam força na direção dos partidos e os reformistas cometeram dois crimes históricos. O primeiro foi chancelar os créditos para a Primeira Guerra Mundial. O segundo foi permitir o assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, duas lideranças revolucionárias históricas do movimento operário alemão. Porém, a teoria reformista vai ser o embrião do conceito de Social Democracia como a entendemos hoje e, posteriormente, contribuiu para a formação do Estado de Bem Estar Social.

Como disse Safatle, estamos num limiar, porém, nossa geração tem o privilégio de fazer um inventário sobre os erros e acertos dos modelos implantados na práxis histórica com o objetivo de sermos assertivos e humanistas no horizonte desafiador que a história nos coloca. Temos literaturas teóricas que respondem sobre as experiências dessa práxis. Isso deve nos levar a elaboração analítica assertiva da SÍNTESE dialética sobre as dicotomias que se confrontaram. Mas pra isso, precisamos nos desarmar de nossas crenças e convicções ideológicas. Temos que estudar e compreender os fundamentos das teorias que mostraram acertos históricos e fazer uma atualização para avançarmos. Como um governo democrático tem que governar para TODOS, é preciso conciliar a soma de interesses e ter sabedoria no diálogo e nas ações que contemplem todo tecido social. Olhemos mais para os exemplos dos países nórdicos e para além da dicotomia: esquerda X direita.

 

Respostas de 2

  1. Cumprimentos ao autor e ao portal pelo espaço aberto ao debate de uma questão de importancia maior qual seja a da democracia; quanto ao artigo, embora reconheçendo a sua seriedade Intelectual e Politica, entendo que devemos prossegur na discussão em busca do seu argumento central, que é o da validade da social Democracia, e especialmente quanto aos seus desafios atuais, inclusive quantos aos seus limites historicosociais, postos pela desestruturação capitalista hegemonica desde os anos 70 do seculo passado. Neste sentido, gostaria de sugerir e solicitar informações sobre as formas de contato possiveis com o autor e a editoria deste criativi e instrigante Portal

  2. Os dois primeiros governos do lula não foram atigidos pela mídia social. O segundo governo dilma foi afetado pela narrativa do mundo paralelo das redes sociais muito bem controlado pela extrema direita. Lula conseguiu derrotar bolsonaro mesmo com as redes sociais apoiando o 22. Lula agora precisa reconquistar a classe média e os evangelicos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

novidade!

inscreva-se em nosso canal do youtube