Por Robson Weszak – Diretor de Marketing e Relações Públicas – robson.audaz@gmail.com
Recentemente, uma fala polêmica proferida pelo pastor André Valadão durante um culto na filial da Igreja Batista da Lagoinha nos EUA gerou grande repercussão e despertou debates sobre a relação entre as igrejas evangélicas e os levantes de extrema direita no mundo. Nesse episódio, o pastor associou a comunidade LGBTQIA+ à destruição divina e incitou seus fiéis a se posicionarem contra esse grupo. Essa situação levanta questões sobre o uso da religião para propagar o ódio e a violência, além de destacar a importância de combater discursos discriminatórios e buscar um equilíbrio de paz social baseado no amor e no respeito mútuo.
A fala do pastor André Valadão é extremamente preocupante e inaceitável, pois podemos afirmar que estamos a um passo de enfrentar grupos de extermínio formados exclusivamente por pessoas evangélicas destinados a matar pessoas homossexuais? Não seria precipitado afirmar que isso marca o início de um novo grupo extremista religioso no Brasil.
É crucial reconhecer a gravidade da situação e combater discursos de ódio e violência, independentemente de sua origem religiosa. A fala do pastor Valadão não pode ser considerada uma pregação religiosa, pois foi uma clara incitação ao ódio e à violência. É particularmente preocupante em um país onde se registra o maior número de assassinatos de pessoas LGBTQIA+ no mundo.
Além disso, é válido mencionar que existe uma dimensão política nesse episódio. Pode-se questionar se o verdadeiro objetivo do referido pastor é ser preso, a fim de se fazer de vítima e atacar o governo, alegando perseguição religiosa, já que esse é o mantra das fakenews da extrema direita. No entanto, é fundamental destacar que o foco deve estar na conduta inaceitável de incitação ao ódio e não permitir que tais discursos sejam tolerados em nossa sociedade.
Após a divulgação do discurso do pastor Valadão, o Ministério Público Federal no Acre instaurou uma investigação para apurar a prática de homofobia. O procurador regional dos Direitos do Cidadão no estado, Lucas Costa Almeida Dias, apresentou uma representação baseada na legislação que equipara a homotransfobia ao racismo, seguindo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Essa medida busca garantir que discursos de ódio e incitação à violência não sejam tolerados, independentemente do contexto religioso.
A representação junto ao Ministério Público de Minas Gerais: Além da investigação no Acre, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma representação ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), estado onde a igreja de Valadão tem sede. A denúncia está embasada nos mesmos princípios jurídicos e busca esclarecer se houve incitação ao ódio por parte do pastor durante outro culto realizado anteriormente, intitulado “Deus Odeia O Orgulho”. O MPMG analisará as informações e decidirá se tomará medidas legais contra o pastor.
É importante contextualizar esses episódios no contexto mais amplo da relação entre algumas igrejas evangélicas e movimentos de extrema direita ao redor do mundo. Embora seja fundamental não generalizar, existem casos em que líderes religiosos utilizam sua posição para disseminar discursos discriminatórios, intolerantes e políticos, associados a ideologias extremistas
Frente a esses desafios, é crucial que a sociedade esteja atenta e se posicione contra discursos de ódio, independentemente de sua origem religiosa. É preciso promover um diálogo saudável, baseado na empatia, no respeito e na defesa dos direitos humanos, incluindo a diversidade sexual e de gênero. Além disso, a atuação de instituições como o Ministério Público é fundamental para garantir que manifestações de ódio sejam responsabilizadas legalmente, de forma a coibir práticas discriminatórias e combater a violência.
É importante ressaltar que as ações de líderes religiosos como André Valadão não representam a totalidade das igrejas evangélicas ou de sua mensagem. Há muitos líderes e fiéis comprometidos com o amor, a inclusão e a promoção da paz social. No entanto, é necessário enfrentar e criticar discursos de ódio que surgem de setores radicais e que buscam disseminar o preconceito e a intolerância.
Nesse sentido, a luta contra o discurso de ódio e a promoção da paz social requer uma abordagem sistemática. É preciso investir em educação, diálogo inter-religioso e na conscientização dos direitos humanos. Além disso, é fundamental que a sociedade como um todo se envolva nessa causa, rejeitando a violência e promovendo a igualdade e o respeito à diversidade.
Ao confrontar a relação entre igrejas evangélicas e os levantes de extrema direita, é essencial separar as ações individuais de líderes controversos dos princípios e ensinamentos mais amplos da fé cristã. A mensagem central do evangelho é baseada no amor, no perdão e na justiça social, e é importante lembrar que há inúmeros líderes religiosos que se dedicam a viver e promover esses valores.
Em suma, é necessário um esforço conjunto da sociedade, das instituições e das próprias comunidades religiosas para combater o discurso de ódio e a violência, promovendo um ambiente de respeito, inclusão e paz. Somente através do diálogo e do compromisso mútuo podemos construir uma sociedade mais justa, onde o amor prevaleça sobre a violência e a intolerância.