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OPINIÃO: Nós, o centro, o jornalismo e um bando de animais

Artigo de opinião do jornalista Felipe Silveira (Felps)

Redação, Portal Chuville

06 junho 2024

editado em 06 junho 2024

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Foto Felipe Silveira
felps

Opinião por:
Felipe Silveira (Felps)

felipesilveira09@gmail.com

Com certo desespero prévio pelo sacrifício temporário da minha audição, cliquei no vídeo em que conhecido extremista de direita de Santa Catarina ataca a jornalista Dagmara Spautz por explicar o óbvio: a PEC 3/2022, na prática, vai restringir o acesso e consequentemente o uso das praias pela população, favorecendo clientes do resorts que pagarão caro pela praia “exclusiva”.

É privatização das praias ou não é? É, mas o extremista se apega à letra fria para dizer que não. Seu show depende disso. Parte substancial da estratégia da direita é espetacularizar o confronto com figuras que eles e seu público vêem como estandartes progressistas, incluindo a Globo e Alexandre de Moraes. Em SC, Dagmara é uma destas figuras.

É preciso entender este fenômeno para tentar sair do buraco em que estamos, que passa pelo sumiço do centro e implosão do bom senso. Para isso, preciso dar um pitaco sobre jornalismo.

O jornalismo é uma atividade que serve a dois senhores: o patrão/patrocinador e o leitor/cidadão. Na verdade, quase todas operam desta forma no mundo que conhecemos, ou, como queira chamar, no capitalismo. Do advogado ao arquiteto, à exceção dos publicitários, quase todos trabalhamos para reduzir danos que nossas atividades causam ao ambiente e à sociedade. Fazemos o que dá dinheiro, mas temos regras que construímos coletivamente e ao longo do tempo para evitar o pior.

A primeira servidão acontece de maneira direta e indireta. Às vezes o patrocinador liga para o dono do jornal e diz para ele fazer assim, assim, assado, ordem que é diretamente transmitida para um funcionário que tem que fazer daquele jeito ou se demitir. Embora comum, a prática é praticamente criminosa. No mínimo imoral, antiética, suja etc. Porém, quando não é desse jeito, é de outro. Recebe dinheiro o grupo de comunicação que incomoda menos o conjunto de empresas e associações empresariais que dá as cartas no mercado.

Por outro lado e tão natural quanto andar para frente, o jornalismo existe para procurar o que está errado e contar para todo mundo. É a natureza da atividade. Apontar erros, denunciar corrupção, chamar a atenção para injustiças e exigir respostas. O mais bananão dos jornalistas tem em si essa flama.

Junta-se, então, a fome à vontade de comer. O jornalista quer inticar com tudo e todos e leitores e leitoras querem ver o circo pegar fogo. Ou melhor, querem que alguém avise que o manejo inadequado do combustível usado pelo cuspidor de fogo pode dar merda. Mesmo que não pareça, mesmo que de jeitos muito enviesados e atrapalhados, quase todo mundo quer mais ou menos o melhor. Por isso que o jornalismo segue com audiência e como atividade fundamental da dinâmica social.

A dupla condição da atividade jornalística a torna o perfeito agente duplo na luta de classes que rege as democracias liberais — o único tipo que conhecemos. É por causa disso que todos os dias nos revoltamos com as manchetes ao mesmo tempo que cobramos e nos amparamos em uma atuação firme do jornalismo contra o nosso inescrupuloso tempo.

 

EM DEFESA DO MÍNIMO
Nós já sabemos, mas sempre tento explicar para algumas pessoas que ser de esquerda é desejar e lutar por coisas óbvias. Trabalhar menos para aproveitar mais a vida, dividir a riqueza que produzimos de maneira mais justa, garantir direitos básicos de existência livre e plena. E por aí vai. Tudo muito simples na teoria e dificílimo na prática. Afinal, vivemos em uma guerra de classes.

Por exemplo, questão da moradia. Queremos casas, e casas boas, para todos. Mas casas custam caro, não temos como expropriar as casas vazias concentradas nas mãos de poucos sem provocar um caos político e, mais do que um agente político poderoso, o setor imobiliário é muito relevante para a economia de um país. Casa para todo mundo é o lógico, mas não é fácil. Nos contentamos, então, em lutar pelo paliativo, que são os programas de habitação popular.

Voltemos ao jornalismo local. Por uma série de razões e até mesmo por conta do acaso, profissionais vão percorrendo trilhas diferentes nesta selva. Assim, por mérito e quase que uma oposição a alguns colegas, Dagmara Spautz se sobressaiu como uma das principais jornalistas do estado. Com o bom senso como ferramenta, com compromisso com o que o jornalismo tem de melhor, defende o que é lógico e mínimo para que possamos viver em um lugar melhor. Por exemplo, que praias não sejam inacessíveis para o povo por causa de uma lei privatista que negam sê-la como se a negativa mudasse a realidade.

 

ANIMAIS
O problema é que do outro lado está um bando de animais que tomou conta de parte substancial do poder. Privatizadores de praias, antivacinas, necrófilos armados, terroristas pró-64 e porcos de todo tipo. Não foi por acaso que a invasão de 8 de janeiro foi marcada por nojeira. Essa gente imunda botou para fora o que tinha em si, de maneira literal e figurada.

Quando essa massa ganhou força, ela arrastou toda a sociedade para a direita, incluindo nós para o centro. Hoje cá estamos nós, brigando para que pais vacinem seus filhos como o próprio regime militar obrigou na década de 70. Cá estamos brigando para que praias não sejam privatizadas.

Em algum momento houve algo que chamamos de centro, uma coisa praticada por gente de direita e de esquerda e por meio consenso. Às vezes fácil, outras nem tanto. Fato é que nossas conquistas dependiam dele, dessa dinâmica em que prevalecia algum bom senso. Por isso que a proposta de sanitaristas de esquerda construída em plena ditadura foi colocada na constituição e mudou a história do país. Por isso que temos universidade pública, direitos trabalhistas etc. Em algum momento a luta da esquerda dobrou o meio e ganhou a briga.

Hoje nós fomos arrastados para o centro (repare no governo Lula) e a extrema-direita tem maioria (no congresso, nos estados e cidades). E eu até ficaria preocupado de não conseguir ir mais à praia se não soubesse que o mar logo vai tomar conta das nossas cidades litorâneas. Mais uma conquista da direita para os animais da direita comemorem jogando bosta uns nos outros.

 

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Uma resposta

  1. Excelente artigo!!! De uma forma direta, porém sutil e inteligente, o articulista Felps, tomando a Sujeira que fizeram com a querida, inteligente e de um bom senso ímpar, a jornalista Dagmara Spautz (sou fã dela) como o centro de sua análise, ele, Felps, tocou com mestria na ferida do surgimento do esgoto pós “ascensão” do agora inelegível “isso daí”, que são justamente estes “bichos escrotos” que, sem nenhum pudor, com extremo ódio e bizarrice, atacam uma mulher que é exemplo de ética na profissão!!! Que voltem pro esgoto estes nazifascistas da extrema direta!!!!

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