Faça parte do nosso grupo! receba notícias de Joinville e região no whatsapp

OPINIÃO: Habemus Papa – Leão XIV, o Papa da esperança

Por Rodrigo Schlosser e Israel Aparecido Gonçalves

Redação, Portal Chuville

12 maio 2025

editado em 12 maio 2025

Compartilhe no Whats
IMG-20250512-WA0023

Opinião por:
Israel e Rodrigo

A eleição de Leão XIV como novo Papa da Igreja Católica representa mais do que uma sucessão pontifícia — é um espelho do mundo contemporâneo em sua busca por sentido, unidade e renovação moral. Uma curiosidade significativa foi a participação de três catarinenses dos sete cardeais que participaram do Conclave, Dom João Braz de Aviz (Mafra), Dom Leonardo Ulrich Steiner (Forquilhinha) e Dom Jaime Spengler (Gaspar), simbolizando a presença brasileira nesse evento histórico, cuja importância transcende as fronteiras religiosas e alcança também questões políticas e sociais.

Leão XIV, nascido nos Estados Unidos e missionário por décadas no Peru, encarna uma síntese rara entre racionalidade institucional e sensibilidade pastoral. Sua eleição indica uma tentativa da Igreja de se alinhar aos desafios do século XXI, mesclando tradição com uma abertura prudente às urgências sociais. A escolha do nome “Leão” remete a papas reformistas do passado, especialmente Leão XIII e sua encíclica Rerum Novarum, que inseriu a Igreja no debate sobre justiça social — um tema ainda urgente e atual.

Quando publicamos aqui o artigo “Conclave de 2025: mudança ou permanência? 05 maio 2025”, discutimos que o novo papa enfrentaria desafios complexos, relacionados a questões internas da Igreja — como o papel da mulher e a união homoafetiva — e externas — como as guerras e a destruição do meio ambiente. Pela biografia, pelos rituais e pelos primeiros discursos de Leão XIV, tudo indica que o conclave de 2025 conseguiu escolher o cardeal certo para um cenário difícil.

Sob a lente de Max Weber, esse momento pode ser interpretado como a transição entre duas formas de dominação legítima dentro da Igreja: a racional-burocrática, que sustenta a hierarquia clerical, e a carismática, que emerge em tempos de crise como um chamado à transformação. Leão XIV carrega o carisma necessário para operar essa mediação. É interessante notar que até mesmo não católicos se emocionaram com o novo papa — o povo parece estar esperançoso. Sua biografia transnacional e seu compromisso pastoral conferem-lhe legitimidade simbólica e transformam esse carisma em vontade de mudança junto aos fiéis, especialmente os latino-americanos, hoje a maior comunidade cristã do mundo.

Ao pensar a eleição do Papa, podemos recorrer ao sociólogo Émile Durkheim, que interpreta rituais coletivos como mecanismos de reafirmação da coesão moral. O conclave — embora possua elementos políticos controversos, conforme discutido no artigo “Os desafios do novo papa”, de Carlos Eduardo Sell e Israel Aparecido Gonçalves (Estadão, 07/05/2025) — funciona como um desses rituais. A fumaça branca não anuncia apenas um novo líder, mas renova o “consenso sagrado” que a Igreja precisa reafirmar constantemente para manter sua relevância. Trata-se de um momento simbólico que une e renova as crenças dos católicos, permitindo uma reflexão coletiva sobre o papel da Igreja no mundo, entre o sagrado e o profano.

Outro pensador que nos ajuda a compreender esse momento é o sociólogo Pierre Bourdieu. A partir de seus conceitos, podemos observar que o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost acumulou capital simbólico ao longo de sua trajetória como padre missionário, intelectual e profundo conhecedor da burocracia eclesiástica. Ele conquistou respeito interno entre os cardeais, mesmo não sendo um dos nomes mais cotados pela mídia. Segundo Bourdieu, o conclave é um espaço de disputa de capitais simbólicos dentro do campo religioso. A eleição de Leão XIV, que ganhou grande visibilidade midiática, mostrou que a Igreja ainda é capaz de surpreender, mobilizando suas próprias lógicas de consagração. Nesse campo, o prestígio espiritual e a experiência missionária podem superar estratégias de visibilidade pública ou de mera manutenção da tradição.

Em seu primeiro discurso como Papa, Leão XIV destacou a importância da paz e de uma Igreja inclusiva, sinalizando seu compromisso com os valores de abertura e diálogo que marcaram o pontificado de Francisco, construindo pontes de esperança.

Embora enfrente desafios, como a necessidade de lidar com questões internas e externas da Igreja, Leão XIV inicia seu papado com a expectativa de ser um líder que equilibra tradição e inovação, guiando a Igreja Católica em tempos de transformação, devendo buscar o equilíbrio entre doutrina e a compaixão, oferecendo respostas firmes, mas sempre humanitárias, levando a máxima da caridade e do amor ao evangelho de Cristo.

Por mais que o Vaticano pareça distante, Santa Catarina se vê representada pessoalmente e simbolicamente nesse evento pelos três cardeais que nasceram em nosso estado. Mas é o mundo inteiro que agora volta os olhos ao novo Papa, aguardando, com fé e expectativa, como ele responderá aos dilemas de uma humanidade em transição. Os primeiros atos do Papa indicam inteligência, coragem e o espírito de compaixão que o Evangelho exige.

Sobre os autores

*Rodrigo Schlosser é bacharel em Direito pela Universidade da Região de Joinville (Univille) e especialista em Direito Processual Público pela Universidade de Santa Cruz do Sul (RS). Advogado, palestrante e professor do curso de Direito em Joinville (SC), é membro das Comissões de Direito Tributário e de Mediação, Conciliação e Arbitragem da subseção da OAB/Joinville. É autor dos artigos Reflexões sobre Maquiavel e o Estado Democrático de Direito e A Importância da Função Social da Empresa como Primórdio do Princípio da Preservação Empresarial.

**Israel Aparecido Gonçalves é doutorando em Sociologia e Ciência Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é graduado em História, Administração e Filosofia. Organizou 20 livros nas áreas de Educação e Ciências Humanas e possui 130 artigos de opinião publicados em diversos sites e jornais do país. Seu livro mais recente é “Sociologia e Direito – Volume 3”, lançado pela Editora Periodicojs em 2025

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

novidade!

inscreva-se em nosso canal do youtube