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OPINIÃO: Contra narrativas de Débora do batom, o país precisa conhecer uma verdadeira heroína, Jacinta Passos!

Por Carlos Castro, Jornalista.

Redação, Portal Chuville

08 abril 2025

editado em 08 abril 2025

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Opinião por:
Carlos Castro - Jornalista

O país precisa conhecer a sofrida e dolorosa história de Jacinta Velloso Passos para que se faça um paralelo e não sobre pedra sob pedra da narrativa dos golpistas de 8 de janeiro, em tentar tornar Débora do batom, um ícone histórico. A comparação de Nikolas Ferreira com a ativista afro estadunidense, Rosa Parks, símbolo da luta pelos direitos civis e antirracista nos EUA, é digna de vômito.

Jacinta Passos, mulher bela, poetisa, guerreira, mãe, tinha o grave “defeito” de ser comunista. Nascida na baiana Cruz das Almas em 1914, foi esposa de James Amado, irmão do escritor Jorge Amado e militante do PCB. Foi presa pelo Exército em 1965 por estar escrevendo num muro de Aracaju/SE, “Independência nacional não é nacionalismo!”.

Por enfrentar seus algozes, interrogadores militares, com altivez e profundo conhecimento, com argumentos sólidos que lhes impediam de responder por incapacidade intelectual, foi internada num manicômio. Sem poder dobrá-la, lhe decretaram a loucura e a submeteram a um excesso de sofrimento com choques elétricos para domá-la. Nove anos isolada, morreu num hospício como louca porque sua patologia era ser “comunista desde 1944”. O registro sobre como se sentia pode ser lido nesse poema:

Matéria expansiva eu sou,

expansiva e comprimida no fundo desta prisão,

palavra diminuída,

presa a ideia, presos os pés,

palavra diminuída,

os braços arrebentando

ataduras de envolvida. 

Conheci essa história casualmente e ao pesquisar no Google, fiquei estarrecido por não encontrar nada sobre ela em nenhuma página da imprensa nacional ou da esquerda. Como pode uma história tão rica e dolorida ficar no anonimato após tentarem transformar uma golpista em heroína nacional, sendo que é possível fazer o paralelo entre as histórias de Jacinta e Débora?

Jacinta, uma mulher inteligente e culta, combateu a ditadura, foi presa por pichação, torturada com choques elétricos e morreu, após nove anos de prisão num quarto insalubre de um hospício. Débora do batom, uma mãe irresponsável, abandonou os dois filhos e a família para pedir golpe militar em Brasília, 900 km longe de casa. Foi presa e recentemente liberada com tornozeleira eletrônica para prisão domiciliar. Se a história de Jacinta viesse à tona, essa pseudo heroína mequetrefe que escreveu com seu batom, “perdeu mané” na estátua da Justiça, já estaria no ostracismo, calando a bozolândia pútrida.

Ao ler a história dessa CAMARADA no livro “Jacinta Passos, Coração Militante: poesia, prosa, biografia, fortuna crítica” de sua filha, Janaina Amado, é possível sentir no coração e nos olhos, toda a dor e lágrimas que a filha sentiu para escrever essa magnifica obra. Após 12 anos, quando ela visita a mãe no manicômio e essa, retesada, nega tê-la como filha, é impossível o leitor não verter lágrimas. Fica nítido quanta dor e sofrimento há em seu espírito. Frente a uma farsa, temos uma verdadeira heroína para conhecer e admirar.

Na prisão, Jacinta Passos expressou com sua arte o que motivou o Exército a prendê-la, no poema, “Duas Américas”, escrito em 1968:

“Nos muros de Aracaju ai!

que letras resistentes nos muros de Aracaju […]

há três anos escrevi nos muros de Aracaju:

Independência nacional não é nacionalismo!”.

“Jacinta preencheu cerca de 3.348 páginas de caderno manuscritas no período em que esteve presa, quase 560 páginas por ano, quase 16 páginas por dia. Mergulhou completamente no mundo da criação, o seu mundo, onde pensava e escrevia livremente sobre tudo o que a interessava, principalmente política e arte; ali criava poemas, peças teatrais, letras para canções, textos radiofônicos, discutia filosofia, história etc. Essa mulher inteiramente sozinha, confinada como louca em um sanatório de uma cidade remota, inventou um mundo de liberdade, acreditando no poder criativo do pensamento, da palavra e da arte”. Esse parágrafo consta no livro e foi escrito pela filha Janaina. A história dessa mulher valorosa precisa sair do rodapé e ganhar os holofotes da imprensa nacional e dos canais dos influencers de esquerda.

Jacinta Passos faleceu nesse sanatório, no dia 28 de fevereiro de 1973, aos 57 anos de idade. No enterro, o ex-esposo, James Amado, recebeu os cadernos manuscritos por Jacinta que hoje integram os “Cadernos do Sanatório”.

“Quando eu não for mais um indivíduo,

eu serei poesia. […]

Eu não serei eu, eu serei nós,

serei poesia permanente,

poesia sem fronteiras.

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