O Conclave é um dos eventos mais emblemáticos e solenes da Igreja Católica. Muito mais do que uma cerimônia religiosa, trata-se de um processo jurídico-canônico e político que envolve o mais alto representante da hierarquia eclesiástica. O objetivo central é a eleição do novo Papa, com uma dupla função ser o líder espiritual dos católicos do mundo e Chefe de Estado do Vaticano.
Politicamente, o Conclave reflete as tensões, alianças e divisões internas da Igreja. Os cardeais representam diferentes regiões do mundo e distintas linhas teológicas ou pastorais. Assim, o Conclave é também um espaço onde se articulam interesses e visões de futuro para a Igreja. As decisões não são tomadas apenas com base na pessoa do candidato, mas também em sua capacidade de liderar, dialogar com o mundo contemporâneo e aprimorar as estruturas internas.
O Conclave é convocado – regulado principalmente pela Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada pelo Papa João Paulo II em 1996, com atualizações feitas por Bento XVI e Francisco, após a morte ou renúncia do Papa, iniciando-se entre 15 e 20 dias após o evento. Os cardeais eleitores — que devem ter menos de 80 anos — são reunidos na Capela Sistina, onde permanecem em clausura. O voto é secreto, e, para que a eleição seja válida, é necessário o apoio de dois terços dos votos. Caso não haja consenso após 34 votações, apenas os dois cardeais mais votados são elegíveis nas votações seguintes.
A composição do Colégio Cardinalício reflete a diversidade geográfica da Igreja Católica. Nos conclaves recentes, observou-se uma crescente influência de cardeais provenientes da África, Ásia e América Latina. No entanto, a Europa ainda representa 39,9% do total, seguida por 17% da Ásia, 14,8% da América do Norte, 13,3% da África, 12,6% da América do Sul e 3% da Oceania.
O perfil ideológico dos cardeais também influencia o resultado do Conclave. Durante o papado de Francisco, houve uma tendência à nomeação de cardeais com visões progressistas, focados em temas como justiça social, migração e ecologia.
Após a morte do Papa João Paulo II, o Conclave de 2005 elegeu o alemão Joseph Ratzinger como Papa Bento XVI. Este Conclave foi marcado pela rapidez na decisão e pela escolha de um Papa com perfil conservador, reforçando a tradição e a doutrina da Igreja, ao mesmo tempo em que buscava consolidar os avanços do pontificado anterior.
Em 2013, com a renúncia de Bento XVI, o Conclave subsequente elegeu o argentino Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco — um novo nome para um novo cenário da Igreja. Sua eleição representou uma mudança significativa, com ênfase em temas sociais e uma abordagem pastoral mais próxima dos fiéis, reforçando o papel missionário de uma “Igreja em saída”.
O Conclave de 2025 terá início em 7 de maio, após a morte do Papa Francisco, ocorrida em 21 de abril de 2025. Espera-se que este Conclave seja breve, com estimativas indicando duração de dois a três dias, devido ao suposto consenso entre os cardeais sobre a necessidade de continuidade do pontificado. No entanto, esse período poderá se estender caso esse consenso não se concretize. Neste Conclave, 135 cardeais estarão aptos a votar e eleger o sucessor de Pedro.
O novo Papa enfrentará desafios significativos, como a gestão das questões internas da Igreja — incluindo economia e administração —, o debate sobre o papel da mulher, os casais em segunda união e os casais homoafetivos. Além disso, deverá lidar com crises externas, como conflitos geopolíticos, mudanças sociais e questões ambientais.
Podemos esperar que este Conclave não será apenas um rito de sucessão, mas um momento decisivo para os rumos da Igreja Católica no século XXI. A escolha do novo Papa representará não apenas a continuidade ou ruptura com o legado de Francisco, mas também uma resposta institucional a um mundo em transformação. A grande expectativa é saber se o próximo pontífice conseguirá equilibrar tradição e inovação, mantendo a fidelidade aos fundamentos da fé cristã, ao mesmo tempo em que acolhe os desafios éticos, culturais e sociais do presente.
Israel Aparecido Gonçalves é doutorando em Sociologia e Ciência Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é graduado em História e Filosofia. Organizou mais de 20 livros nas áreas de Educação e Ciências Humanas e possui 128 artigos de opinião publicados em diversos sites e jornais do país. Seu livro mais recente é “Sociologia e Direito – Volume 3”, lançado pela Editora Periodicojs em 2025.
Rodrigo Schlosser é bacharel em Direito pela Universidade da Região de Joinville (Univille) e especialista em Direito Processual Público pela Universidade de Santa Cruz do Sul (RS). Advogado, palestrante e professor do curso de Direito em Joinville (SC), é membro das Comissões de Direito Tributário e de Mediação, Conciliação e Arbitragem da subseção da OAB/Joinville. É autor dos artigos Reflexões sobre Maquiavel e o Estado Democrático de Direito e A Importância da Função Social da Empresa como Primórdio do Princípio da Preservação Empresarial.