A fase terminal do capitalismo, de suas crises cíclicas, está atingindo o apogeu com o derretimento acionário das bolsas de valores pelo mundo. São trilhões que estão virando poeira. Os EUA, em dois dias queimou US$ 6 trilhões de dólares, porém, o valor vai a US$ 10 trilhões desde a posse de Trump, ou seja, em três meses, ele conseguiu derreter o equivalente a toda riqueza produzida pelo PIB brasileiro em cinco anos. O capitalismo mundial está em pânico e estamos vivendo uma janela histórica da terceira e quiçá, crise final desse sistema.
A primeira foi o Crash da bolsa de valores de Nova York em 1929, ponto de partida da Grande Depressão que durou cerca de 4 anos e foi salva por Franklin Roosevelt com o New Deal. Aliás, o interessante é que essa política foi aprovada na Suprema Corte dos EUA por 6X5. Quase que os conservadores republicanos derrotam a salvação do capitalismo estadunidense, porque alegava-se que Roosevelt estava submetendo o país ao comunismo. Porém, o mentor intelectual do projeto era o liberal inglês, John Maynard Keynes que se apropriou de ideias socialistas para salvar o sistema capitalista. Deram os anéis para não terem suas cabeças guilhotinadas.
A segunda crise foi a da subprime, oriunda de uma bolha imobiliária nos EUA, em 2008, causada pelo aumento dos valores imobiliários, inflacionados pelos bancos, que não foi acompanhado por aumento de renda da população. O marco foi a falência do tradicional banco estadunidense, Lehman Brothers. Mas a origem foi a estagnação da renda das famílias devido o governo apostar as fichas e fortunas na política de guerras como a do Afeganistão e Iraque. Os gastos elevados com as guerras contribuíram para o aumento da inflação no país. Isso levou o Federal Reserve (equivalente ao Banco Central) a aumentar os juros a partir de 2004. Mas ao invés de conter a inflação, estrangulou financeiramente as famílias. Sem crédito, não honraram mais o pagamento de suas hipotecas, modelo de empréstimo bancário comum nos EUA que deixa o imóvel como garantia e quem não pagar, perde o imóvel.
Após a eclosão da crise subprime, as bolsas do mundo colapsaram, pois os investidores passaram a resgatar suas aplicações, afetando a liquidez do mercado. Ao requerem o saque, os bancos não tinham como cobrir. O que isso significa? Que o capitalismo não tem lastro. Tudo é mentira, enganação e ilusionismo. Nesse período, bilhões viraram poeira. O filme “A Grande Aposta” trata desse tema.
A crise de 2008 deveria ter derrotado o modelo NEOLIBERAL que avançou nos estragos. Foram os governos de Thatcher na Inglaterra e Reagan nos EUA que aplicaram o neoliberalismo com privatizações, desregulamentações e globalização. A desregulamentação criou as bases para a crise subprime em 2008. A crise de 1929 levou o governo a impedir os bancos de saírem de seus estados. Os bancos comerciais não podiam ter ligação com os bancos de investimentos e estes não podiam se relacionar com seguradoras e corretoras. Reagan acabou com essas “paredes” e permitiu misturar “alhos e bugalhos”, facilitando a criação dos títulos “subprime”, raiz da crise de 2008. Assim, caiu por terra a crença estúpida de que o mercado resolveria seus problemas e que o Estado não deveria interferir, já que pregavam o “Estado Mínimo”, mínimo para o povo, porém, foi sempre máximo aos capitalistas.
George Bush dizia que acreditava na livre iniciativa e se opunha à intervenção estatal, porque empresas que tomam decisões erradas devem sair do mercado. Mas como o mercado não estava funcionando corretamente, então, como presidente na época, resolveu lançar o Programa de Alívio de Ativo Problemático para liberar US$ 700 bilhões de dólares em ajuda aos bancos. Como um tubarão, o neoliberalismo concentra a renda e engole os peixes menores no oceano do mercado.
Friedrich Hayek e Ludwig Von Mises já haviam fracassado miseravelmente com suas teorias perante a crise de 1929. Porém, com Reagan e Thatcher tornaram esses teóricos do mal, os oráculos da verdade econômica. No livro “O Caminho da Servidão”, Hayek imputa o mercado como um ente superior ao Estado na organização da economia. A história provou seu erro em 1929, em 2008 e novamente, num grau avançado com o derretimento de trilhões de dólares nas bolsas sob a batuta de Donald Trump. O mercado não se autorregula, além de não evitar as crises, ao contrário, é o responsável por estas que só são resolvidas pela intervenção estatal com o rico e suado dinheiro dos pagadores de impostos, o povo.
Trump pretende criar uma nova ordem mundial desglobalizada com o fim da transnacionalização do capital, construído sob os aspectos políticos, geopolíticos, militares e econômicos no cenário global. Com a ascensão da China, o modelo entra em crise, já que o país soube aproveitar o conhecimento tecnológico trazidos pelas grandes corporações estadunidenses e mundiais durante o desenvolvimento da globalização e atualmente, se posiciona na vanguarda dos avanços tecnológicos. Com isso, está a passos largos para se tornar, em breve, a maior potência econômica do planeta. É bem provável que Trump esteja dando um empurrãozinho com seu “lindo tarifaço”.
O processo de imensas transformações econômicas levou Trump a querer mudar a estratégia do sistema capitalista para se insurgir contra a globalização. As empresas não podem mais somente enviar os lucros aos EUA, elas têm que fechar suas portas em todos os países, retornar aos EUA para gerar empregos e riquezas em sua Nação. É muito pouco provável que a burguesia vá dar ouvido a esse apelo. Com certeza, se farão de moucos.
A resposta popular ecoou forte em mil cidades estadunidenses com milhões tomando as ruas, nos últimos dias, porque o cavalo de pau dado por Trump já começa a causar inflação, desemprego e previsão de derretimento da economia do país. Mas a grande preocupação dos ativistas sociais é a tentativa de Trump e Elon Musk imporem o extremismo fascista ao povo que ajudou a derrotar a ascensão nazifascista na Segunda Guerra Mundial. Escrito numa faixa “Tire suas mãos”, em outra “O fascismo chegou” e “Parem o mal”. Há reação e resistência popular, portanto, há esperança dessa loucura ser travada.
Num próximo artigo vou deslindar sobre o mal que a loucura trumpista e a ideologia do TRADICIONALISMO está fazendo à bozolândia no Brasil e ao extremismo no mundo. A distopia que estão tentando implantar com o seu “admirável mundo novo” não vai rolar. Mas o mundo está numa encruzilhada. Os dois caminhos apresentados são o retrocesso ao Neofeudalismo ou o Tecnofeudalismo concebido e explicado pelo grego, Yanis Varoufakis em seu livro ou o avanço ao socialismo proclamado por Karl Marx. De uma coisa eu não tenho dúvida, passaremos por solavancos econômicos, sociais medonhos e perigosos. Quem viver, verá.