No domingo, dia 28/04, o Governador Jorginho Mello, em pronunciamento veiculado nas redes sociais, declarou não ter condições de atender às reivindicações dos professores que estão em greve, e informou que iria descontar os salários daqueles que aderissem ao movimento.
Na segunda-feira, noticiamos a atual situação da paralisação dos professores e a decisão do governo de não abrir negociações com a categoria. Fizemos uma analogia a um jogo de cartas (truco), em que o Sindicato chamou o seis e o governo do estado decidiu blefar.
O blefe fica evidente pela situação dos professores estarem respaldados pela lei com o direito assegurado à greve. No entanto, Jorginho Mello afirma ter uma carta na manga, e o que poderia soar como uma ameaça, acabou sendo uma recomendação endossada por ele e pelo Secretário Estadual de Educação, Aristides Cimadon.
Durante uma reunião realizada por uma das coordenações regionais de ensino, em Jaraguá do Sul, um áudio vazado, ao qual o Jornal Estadão teve acesso, revela as orientações dadas por Leopoldo Diehl Filho, Coordenador Regional, e sua assistente, Leidiane Reckelberg, sobre as diretrizes que os diretores das escolas devem seguir para demitir professores temporários e concursados.
“Não gostaria de câmera fechada. Hoje a conversa é um pouquinho mais séria”, foi como a reunião começou por Leopoldo. Em seguida, é mencionado que, após uma conversa com a sede sobre a greve, algumas diretrizes devem ser seguidas.
“A partir de agora, o professor leva falta corrida injustificada. O ACT (professor admitido em caráter temporário) que entrou no dia 23 já na greve já pode ser dispensado e outro contratado. São três anos fora porque ele estourou o limite de faltas. Então, não haverá negociação.” Fala de Leopoldo.
Durante todo o áudio, as instruções para descontar todos os dias, de segunda a segunda, aplicar três faltas injustificadas até o professor temporário ser demitido e, consequentemente, impedido de prestar um concurso futuro, têm o objetivo de forçar os professores a retornar ao trabalho e enfraquecer a greve. Abaixo, uma das falas de Leidiane Reckelberg.
Em outros momentos, é enfatizado que não se permita a entrada do sindicato nas escolas, independentemente do horário. Além disso, é recomendado que se acompanhe as redes sociais dos magistrados, pois quem apoiar a greve também será demitido.
As recomendações se aplicam também aos professores concursados e aos diretores. Aqueles que demonstrarem qualquer apoio à greve serão punidos. “O caldo engrossou, inclusive para o nosso lado”, disse o coordenador Leopoldo.
O Sindicato já informou que a falta só deve ser registrada se a greve for considerada ilegal, o que não é o caso, pois não há decisão judicial sobre a greve em Santa Catarina.
Uma das principais reivindicações dos professores, a descompactação da folha salarial, não poderá ser atendida, segundo o governador, pois custaria R$4,6 bilhões aos cofres públicos, e atender o sindicato seria cometer um crime de improbidade administrativa. Já no áudio abaixo, Leopoldo disse que o caldo engrossou, mas o governo está disposto em negociar a descompactação caso os professores terminem com a greve.
Enquanto isso, a greve continua.