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Como é ser negro em Joinville e em Santa Catarina

Negros representam 18% da população joinvilense, segundo IBGE 2022. No dia da Consciência Negra, o Chuville Notícias te convida a sentir na pele como é viver em Joinville e em Santa Catarina

Redação, Portal Chuville

20 novembro 2023

editado em 21 novembro 2023

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Arte Divulgação

Imagine que você nasceu em uma cidade grande, recebeu educação de qualidade, viveu cercado da família e amigos. Aprendeu desde cedo valores importantes como respeito e amor ao próximo. Seu dia a dia seria intocável não fosse por um detalhe: você é negro ou negra. E desde os primeiros dias de aula, ainda na escola, seus coleginhas implicavam com seu cabelo e com sua religião. Ainda muito criança, não entendia porque cresceu em um lar amoroso para se juntar a um mundo intolerante e perseguidor.

Histórias como estas não são apenas frutos da imaginação. É vida real para muitos negros de diferentes nações. Aqui em Joinville, terra que sempre se orgulhou de ter sido desenvolvida por europeus, não é diferente. Aliás, a história que durante muitos e muitos anos se contou por aqui é bem diferente da real. Joinville foi sim construída a duras penas por imigrantes alemães, suíços e noruegueses, em sua grande parte. Porém aqui desembaracaram muitos negros, que foram usados como mão de obra escrava. A prova disso são os túmulos existentes no Cemitério do Imigrante, além de alguns registros feitos em livros. Parece que a história esqueceu dos negros. O resultado disso vemos até hoje.

O dia 20 de novembro foi instituído como o “Dia da Consciência Negra” no Brasil, por meio da Lei n° 12.519/2011, uma homenagem à morte do líder do Quilombo, Zumbi dos Palmares, ocorrida em 1695. Mais do que um feriado em seis estados e diversos municípios (menos em Santa Catarina), o dia serve para refletir sobre o papel das relações sociais, sobretudo ao respeito às diferentes raças, principalmente os negros.

 

O racismo entre nós

Episódios racistas são frequentes. Atinge negros pobres e ricos, atletas e até autoridades. Antes mesmo de sua posse, em novembro de 2020, a primeira vereadora negra eleita por Joinville, Ana Lúcia Martins (PT), foi vítima de racismo, incluindo ameaça de morte.

Na mesma época, uma membro do Conselho Municipal de Política Cultural sofreu racismo durante uma reunião virtual.

Em agosto de 2022, um jogador do Marcílio Dias foi xingado por um torcedor do JEC (Joinville Esporte Clube) de “nego filho da p**”. A vítima ainda recebeu cartão amarelo porque estaria “retardando a cobrança lateral”, quando na verdade o jogador estava entrando em campo para avisar que tinha identificado o torcedor que cometeu o crime. Ambos os times que estavam no confronto, quanto a Federação Catarinense de Futebol, repudiaram o ato e o caso seguiu para a Justiça Desportiva.

Em janeiro deste ano, um dos fundadores do Movimento Negro Maria Laura, Rhuan Carlos Fernandes, foi vítima de racismo por ter sido acusado injustamente de não ter pago a conta em um posto de combustível. A denúncia envolveu os donos do posto e também os policiais militares que estavam fazendo a segurança do estabelecimento. O caso ganhou repercussão nacional e, às vésperas de completar um ano, ainda não teve nenhuma resposta por meio da corregedoria da PM.

Em julho deste ano, uma escola da zona sul de Joinville foi palco para mais um episódio racista na cidade. Desta vez contra um adolescente de 13 anos, que foi confundido pela Guarda Municipal por estar em um grupo que estaria fumando maconha em frente à unidade escolar. O caso também ganhou repercussão e até agora não há posição por parte da corporação do que foi feito com os profissionais envolvidos.

O caminho para enfrentar estas situações continua sendo o boletim de ocorrência e, em casos mais extremos, processo judicial.

 

Luz no fim do túnel

Por mais que o racismo não escolha local e nem classe social, aos poucos o tema vem sendo discutido e novas realidades surgem. No mês passado, a professora joinvilense, Vanessa da Rosa (PT), foi empossada como a segunda deputada estadual negra da história catarinense. A primeira tinha sido a também professora, Antonieta de Barros, em 1934. Por mais que seu tempo na Alesc tenha sido curto (encerra hoje, dia 20, devido à licença do deputado Padre Pedro  – PT), é inegável sua contribuição e representatividade em uma região que tenta rebaixar os negros a posições inferiores.

“O dia de hoje é importante para debatermos o racismo e a desigualdade social, afinal tanto Joinville quanto SC usaram mão de obra negra escrava em suas histórias, por isso protocolei um projeto de lei que institui feriado oficial em todo o estado como forma de reconhecimento”, argumenta Vanessa, que também é autora do livro “A invisibilidade da mulher negra em Joinville” (Dialética/2022), o qual ajuda a encontrar pistas sobre como racismo chegou até aqui.

Ana Lúcia Martins (PT), primeira vereadora negra eleita por Joinville, também é um exemplo de luta e representatividade. Um de seus projetos de lei orienta que existam cotas de 17% para negros e 3% de indígenas em concursos públicos de Joinville. O mesmo vale para cargos comissionados. O documento deverá passar por análise e discussões.

Movimentos sociais, como o Maria Laura, que completa 10 anos de atividades no ano que vem, é um grupo permanente de luta contra o racismo, ao fascismo e uma fonte de novas oportunidades. Segundo Rhuan Carlos Fernandes, além de toda a assessoria jurídica oferecida em casos de racismo e intolerância, o Movimento Maria Laura também é responsável por aulas de pré-vestibular e diversas atividades culturais.

“Vidas negras importam” tornou-se um mantra de releitura social num grande cenário, que vai desde brincadeiras ditas “inocentes”, passando pelo vocabulário de tratamento, políticas públicas, como cotas, além do combate à intolerância religiosa, parte ingrante do chamado “racismo estrutural”.

Uma resposta

  1. Muito boa a matéria, objetiva, traz uma retrospectiva da cidade no último ano com personagens negros rompendo historicamente revelando um cenario novo e inclusivo. Viva o diferente, viva o Negro viva a diversidade. Parabéns

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