Cada um de nós carrega o sonho de viver melhor. Mais segurança, mais oportunidades, mais qualidade de vida e assim por diante. Para um grupo de mulheres de Joinville não foi diferente. São cerca de 100 que se reúnem frequentemente para tomar café, se divertir, colocar os papos em dia e lembrar de suas raízes deixadas em Joinville, ainda que de forma temporária para algumas.
O Chuville Notícias aproveitou um destes momentos e conversou com elas sobre seus sonhos e desafios de morar na terra do “Tio Sam”.
Elas aceitaram conversar com esta reportagem porque estão de forma regular nos Estados Unidos, ou seja, não correm o risco de serem deportadas após as novas regras impostas pelo governo de Donald Trump.
“Valorizem o SUS, a saúde aqui é ruim e cara”, diz Raquel
Morando nos Estados Unidos desde 2018, Raquel conta que mora com o marido e seus filhos menores no estado de Massachussets. Ela conta que a cultura daquele estado é um pouco parecida com a do sul do Brasil, mas que impõe seus desafios. O depoimento a seguir dá os detalhes:
“Meu marido sofreu algumas humilhações com os próprios brasileiros, porque diziam que se eles sofreram dificuldades, não era justo ser tudo tão simples para meu marido. Porem meu marido ja falava inglês e já veio com proposta de ser supervisor/gerente, então foi uma questão de tempo até essas pessoas aceitarem. Ele também sofreu no início algum preconceito com os americanos, mas ele soube se impor e conquistou a confiança. Hoje ele é muito respeitado na área da construção.
Eu nunca tive dificuldades com americanos. Eu aprendi muito. Cheguei aqui acostumada a buzinar, xingar no trânsito, não dar passagem, Mas aprendi com americanos sobre a gentileza. Onde eu moro, eles são muito gentis. Do nada, no mercado, nos parques, eles têm o costume de elogiar as crianças, elogiar minha roupa, elogiar alguma coisa, só pela gentileza mesmo. Eu acho isso muito lindo.
Para ser bem sincera, eu e meus filhos só fomos mal tratados por brasileiros. O maior preconceito parte da nosso próprio povo e não sei por que. Quando me mudei para onde moro atualmente, uma vizinhança 100% americana, fomos tão bem recebidos que me senti até constrangida. Primeiro dia de aula das crianças, todos os adultos estavam no ponto de ônibus curiosos para nos conhecer. E até hoje são muito gentis. Mas eles são muito discretos, não temos uma amizade de ficar convivendo, porém são sempre atenciosos e sei que posso contar sempre com eles.
Sobre custos, aqui não é como falam no Brasil. Não é tudo barato. A questão é que o dinheiro vale mais, o trabalho é mais valorizado (uma faxineira tem boas condições de vida, não são pobres como no Brasil). Aluguel é o que acho mais caro por aqui. Mas compensa pelo fato de termos escolas públicas de qualidade. A saúde aqui, só digo uma coisa: valorizem o SUS!!!! A saúde aqui é ruim e cara. Eu cheguei à conclusão que EUA é muito bom para quem tem doenças graves, já diagnosticadas. Eles têm tecnologia e remédios. Mas até chegar a um diagnóstico, tudo é muito difícil e demorado. Eu confio mais na minha experiência e no ChatGPT, do que em um médico de emergência.
Na maioria das vezes erraram feio no diagnóstico. A única vez que fui na emergência e deram diagnóstico correto de pedras nos rins, saí de lá com uma conta de US$ 5.800 (por 2h que fiquei no hospital, sem cirurgia, sem remédio, porque ainda tinha que comprar os remédios). Mas não vou só falar mal, em questões de saúde de rotina como dentista, pediatra, ginecologista, eles são ótimos. Tive 2 filhos aqui e foram ótimos”.
Ela diz que só voltaria para Joinville para passear e defende que a deportação sempre ocorreu, inclusive em governos anteriores:
“Eu estou aqui no governo do Trump e passei a gestão do Biden. Espero mesmo que Trump coloque o país de volta nos eixos, porque tudo piorou na gestão do Biden. Houve um aumento de pobreza, pessoas em situação de rua, drogados, aumento na violência, assaltos. Eu vim para ter uma qualidade de vida. Se eu não tiver, não faz sentido. Tem muitos imigrantes que vem e vivem como viviam em seus países, desrespeitam os americanos, não se adaptam à cultura. Eu acho isso errado. Quem vem, deve se adaptar e viver como os americanos vivem. Queira ou não, não é nosso país, estamos de favor. Por isso eu nunca sofri xenofobia.
Eu sei a opinião dos americanos e eles não tem nada contra o fato de terem imigrantes. Eles sabem que tem coisas que só imigrantes fazem, eles sabem que dependem dos imigrantes. (lembrando que estou me referindo aos americanos de Massachussets, alguns estados realmente são preconceituosos).
Não se enganem, nos governos de Obama e Biden eles também deportavam muito, só não era notícia. Muitos estados têm suas próprias leis, como por exemplo na Flórida. Lá a imigração é rígida e não tem nada a ver com Trump, são regras do governador.
O que eu estou sabendo de notícias aqui é que estão atrás de pessoas que têm passagem pela polícia, mandado de prisão. Mas como os policiais não estão colaborando, a imigração precisa fazer as buscas nas ruas. Aí quando pegam ‘colaterais’, não tem o que fazer, só deportar mesmo. É triste a gente ver gente boa sendo deportada, eu realmente sinto muito, mas é um risco que cada um já sabia que estava correndo, assim que pisou aqui. Me diz um país que não tem regras de imigração. Qual é o país no mundo todo que qualquer um pode entrar e viver livremente?.
Eu considero o povo americano muito parecido com o nosso povo do sul, acho que por isso eu gosto daqui. Joinville também preza muito pela beleza, pela natureza, valoriza cultura e tradições. Tudo isso eu vejo muito forte aqui onde moro nos EUA”.

“Mudança não é fácil, recomeçar não é fácil. Nem todo mundo aguenta”, diz Danielly
A joinvilense Danielly se mudou para os Estados Unidos com o marido e filho em outubro do ano passado. O que motivou a mudança foi a busca de melhores condições para o filho. Sua irmã, que já morava por lá, ajudou a facilitar as coisas, inclusive o visto regular de moradia.
“É tudo muito diferente. O custo de vida não é baixo, existe muita oferta de emprego mas é bem diferente do Brasil. Não sofremos xenofobia, graças a Deus. No pouco tempo que estou aqui, eu senti que eles respeitam bastante e existe muita oportunidade de trabalho para mulher também.
Aqui nos Estados Unidos o poder de compra é maior, temos mais oportunidades e mais acesso à educação e saúde para as crianças. Mas para mudar de país nós temos que deixar tudo para trás e começar tudo do zero. Uma vez eu ouvi uma frase que é a mais pura verdade: “A América é para todo mundo, mas nem todo mundo é para a América”. A mudança não é fácil, recomeçar não é fácil. Nem todo mundo aguenta.
Nós vamos seguir firme no nosso propósito e acreditamos que seremos muito felizes aqui também. Porém se não nos adaptarmos por algum motivo, podemos voltar”.

“O país tem um poder de compra absurdo mas, pra mim, não substituiu o Brasil, diz Renata
A jornalista Renata Seliprim, conhecida por ter apresentado o Jornal do Almoço de Joinville durante alguns anos, hoje mora nos Estados Unidos com seu marido e filho. Ela conta que estão realizando um sonho como turistas, com data marcada para voltar:
“Minha primeira saída de Joinville foi para morar pertinho, em São Francisco do Sul, porque desde pequena sempre sonhei em morar na praia. Ficando pertinho assim, continuei com a possibilidade de poder trabalhar em Joinville, porque foi ali que fui reconhecida pelo meu trabalho. A vinda para os Estados Unidos foi uma curiosidade minha, pra conhecer novas culturas e ver de perto as maravilhas que tanto falavam sobre o país.
Vivemos em poucos meses aqui o que jamais tivemos oportunidade de viver se estivéssemos no Brasil. Nossa primeira parada foi Nova York, chorei em cada ponto turístico que passamos. A primeira vez que vimos a neve também foi sensacional. Turistar por Orlando, passear na Disney com certeza foi a realização de um sonho. Mas a cultura aqui é muito diferente. As pessoas não saem de casa. As festas e os restaurantes fecham cedo. Mas o americano é muito educado. No trânsito impera a gentileza.
Viemos para turistar, estudar e aperfeiçoar nosso inglês, além claro, de conhecer outras culturas. As casas são exatamente como víamos em filmes, mas os aluguéis são caros, assim como no Brasil. Porém, o custo de vida acaba sendo mais baixo porque tudo aqui é infinitamente mais barato do que no Brasil. Nunca sofremos nenhum tipo de preconceito, mas fazer amizade com um americano é desafiador.
Sobre as deportações, houve em todos os governos americanos, a diferença está na forma em como isso é feito. Nós mantivemos nosso status e não estamos de forma ilegal no país. Não corremos risco algum de deportação, mas vejo notícias de muita gente sendo deportada por não ter condições de pagar pelo documento americano. Mas também vejo deportações de criminosos que precisam, sim, sair do país.
Estamos passando uma temporada aqui, aproveitando tudo que estamos vivendo. Passeando por lugares que só víamos em filmes. O país tem um poder de compra absurdo mas, pra mim, não substituiu o Brasil”.

“Sempre sonhei em viver nos Estados Unidos, diz Janaína
Morando nos Estados Unidos há quase dois anos, a maquiadora joinvilense Janaína conta que decidiu realizar seu sonho após a atual situação política brasileira:
“Vim com meu esposo, filhos e enteado. A adaptação foi tranquila e eu amo a vida que construímos aqui. Não tivemos dificuldades e todos estão felizes. Nunca passei por situações de xenofobia. Sempre sonhei em viver nos Estados Unidos. A decisão foi impulsionada, principalmente, pela situação política do Brasil.
Tem sido uma experiência incrível. A segurança, a qualidade do ensino para os filhos e o poder de compra tornam a qualidade de vida muito superior. Quanto à deportação, que tanto se fala, nada mudou. Estamos legalizados, então não há motivos para preocupação”.

Uma resposta
o “sonho americano”, uma ideia que leva as pessoas a fazerem lá fora aquilo que não fariam aqui. explica engenheiro virar faxineiro e nutricionista virar domestica. gente com diploma universitário trabalhar em subempregos. será que isso é certo? um pais, e sua sociedade, pagarem uma educação que vai ser jogada fora? tudo em nome da individualidade dessas pessoas e da realização “do sonho americano” ? Como diz em certo momento da matéria: valorizem o SUS. estas mesmas pessoas quando estão doentes correm de volta a pátria amada e mãe gentil para serem aqui tratadas pois sabem muito bem quanto custa a saúde por lá. É……ai o Brasil é bom.