Com quase 47 mil habitantes, a vizinha Guaramirim sofre seu pior momento da crise hídrica. E nem é novidade. O problema já é conhecido da população há pelo menos dez anos. Entra governo, sai governo, as torneiras secas volta e meia assombram quem vive por lá, muitas vezes nem caixa d’água resolve. Políticas de racionamento são frequentes. As razões são muitas, mas esta reportagem vai tentar esclarecer algumas.
Desde o fim do ano passado a situação tem ficado pior. Isto porque a empresa que hoje administra o abastecimento da cidade, a Águas de Guaramirim, assumiu que a produção de água é insuficiente para a atender a demanda. O fato foi confirmado pela prefeitura. Para dar um pequeno respiro, entrou em operação nesta semana a Estação de Tratamento de Água Móvel, um investimento da prefeitura na ordem de R$ 80 mil mensal, afinal trata-se de um equipamento alugado. A proposta é produzir até 20 litros por segundo por até seis meses. O contrato pode ser prorrogado por igual período. “Medida paliativa”, disse o Secretário de Infraestrutura Geovani Satler.
Ministério Público acompanha o caso desde 2016
A falta d’água começou a ser investigada por uma força-tarefa montada em 2016. Na época, MPSC, representantes públicos de Guaramirim, Jaraguá do Sul, Schroeder, Polícia Militar Ambiental, AMVALI (Associação dos Municípios do Vale do Itapocu), Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itapocu, Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (ARIS) e a antiga FATMA, hoje IMA (Instituto do Meio Ambiente), integravam este grupo com a intenção de descobrir de onde vinha a suposta poluição que apareceu no rio Itapocuzinho, que abastece a cidade.
O inquérito foi montado a pedido da Águas de Guaramirim, que alegou na época dificuldades de ampliar a Estação de Tratamento de Água por poluição causada por empresas da região. O Chuville Notícias solicitou acesso ao conteúdo deste inquérito, mas foi informado pela assessoria do Ministério Público que o mesmo está arquivado.
No entanto a mesma assessoria garantiu que a prefeitura de Guaramirim solicitou ao mesmo Promotor de Justiça, Alexandre Schmitt dos Santos, para atuar novamente no caso, alegando as mesmas razões de nove anos atrás. Ainda não há data formalizada, mas a intenção é reunir o grupo novamente o mais breve possível.
Agência Reguladora alega poluição
Procurada por esta reportagem, a Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (ARIS), disse que o problema da poluição ainda é uma realidade que impede investimentos de ampliação do tratamento de água, que resolveriam o desabastecimento. Segundo o Diretor Geral, Adir Faccio, os níveis de poluição dificultam o tratamento: “Com uma certa frequência é preciso esvaziar toda a estrutura, fazer a limpeza e, com isso, interromper o abastecimento, torna-se inviável”, aponta.
Por outro lado ele considera que, desde que a Águas de Guaramirim assumiu o serviço, em 2007, melhorias poderiam ter sido feitas, como por exemplo, investimento em redução de perdas. Ele garante que a fiscalização da Agência Reguladora é anual e obrigatória.
Questionado sobre o atual índice de poluição, Adir diz: “Não tem sido observada a mesma poluição de antes, talvez porque as empresas que estavam poluindo na época tenham se sentido ameaçadas porque estava sendo feita fiscalização”.
O Chuville Notícias procurou a Águas de Guaramirim, mas seus diretores não retornaram nossos contatos para darem sua versão. O espaço segue aberto para manifestação.
Jaraguá do Sul e Schroeder auxiliam no abastecimento
Outra medida paliativa é a parceria formalizada nesta semana com a Samae, de Jaraguá do Sul, para fornecer água à vizinha Guaramirim. Enquanto a Samae vai ajudar a abastecer os bairros Ilha da Figueira e Figueirinha, a Águas de Schroeder deverá abastecer o bairro Vila Amizade. Os custos devem variar de R$ 2,75 a R$ 3,32 o metro cúbico.
Porém mesmo assim não estão descartados novos desabastecimentos, sobretudo aos fins de semana. “A previsão de altas temperaturas no fim de semana deve contribuir para o aumento no consumo e, consequentemente, baixar novamente os níveis dos reservatórios”, disse a prefeitura de Guaramirim, hoje comandada Adriano Zimmermann (PL).
Ex-prefeito preso em 2023
Um episódio que marcou Guaramirim foi a prisão do ex-prefeito, Luís Antônio Chiodini (PP), pela Operação Mensageiro, da Polícia Federal. Tanto o ex-prefeito quanto o ex-diretor da Águas de Guaramirim, Osni Romeu Denker, foram presos entre abril e maio de 2023, situação mantida em agosto daquele ano, durante a Operação investigada pelo Ministerio Público de Santa Catarina.
A investigação que envolveu diversos prefeitos em todo o estado mirava pagamentos de propina em troca de vantagens ilegais, tudo envolvendo contratos com empresa de coleta de lixo.