Um dos prováveis concorrentes a levar a estatueta do Oscar 2025, é o filme “O Conclave”, um deleite cinematográfico, dirigido por Edward Berger e estrelado por Ralph Fienes, John Lithgow, Stanley Tucci e Isabella Rossellini. Podemos considerá-lo um thriller dramático, com interpretações brilhantes dos protagonistas com suas reflexões humanistas. Essa singela análise segue com SPOILER.
O filme trata da eleição de um novo Santo Papa, mostrando os “representantes de Deus” com vícios humanos de pecados capitais como a soberba, a inveja, a luxúria, a ira, a ambição, mas essa carga verte na trama de forma leve e contida entre os 108 cardeais que elegem o sucessor do apóstolo Pedro.
Interessante é perceber nos detalhes do filme, a perspicácia do falecido papa que deixa o jogo de seu substituto desenhado e o pontífice responsável pela condução do Conclave se sente impulsionado a seguir exatamente as pistas deixadas pelo sumo sacerdote que se foi. O segredo do encontro com um líder cotado para vestir as “sandálias do pescador”, a articulação de oposição para impedir um líder radical de assumir a glória da Igreja e começar uma nova Cruzada contra muçulmanos, a inserção de um desconhecido cardeal mexicano e humanista que atuava em Cabul no Afeganistão, segue o enredo do thriller que gruda o espectador na tela.
As várias mensagens reflexivas do filme, humanizam à obra. O Cardeal Lawrence, interpretado de forma magnífica por Ralph Fiennes, responsável pelo Conclave, em sua intervenção de abertura no evento, pede para sair do script e falar com o coração, indicando a CERTEZA como o pecado mais temível, a grande inimiga da TOLERÂNCIA.
Afinal, nem Jesus estava certo em sua agonia na cruz, “Deus meu, porque me desamparaste?”. A ignorância e mediocridade têm certeza de tudo, já a sabedoria, vive mergulhada em dúvidas.
Quando o Cardeal Lawrence informa sobre ataques terroristas que estão ocorrendo na Itália, um dos concorrentes radicais, O Cardeal Tedesco, interpretado pelo brilhante Sergio Castellitto, parte para a certeza e a intolerância. Alega relativismo liberal como fraqueza contra os muçulmanos e o método de resposta da Lei do Talião, “olho por olho, dente por dente” para conter a “nova guerra religiosa”. Nesse momento, o Cardeal Benitez, personagem de Carlos Diehz, lhe contesta: “Meu irmão cardeal, o que sabe sobre guerra? Exerci meu ministério no Congo, em Bagdá, em Cabul. Vi as filas de mortos e mortos vivos, cristãos e muçulmanos…não temos que combater esses homens, temos que combater o ódio em nossos corações” e finaliza disparando serem eles, homens pequenos e mesquinhos, interessados apenas em si mesmos, em Roma, na eleição e no poder, coisas que não são da Igreja. Com essa bela fala humanista, a fumaça branca toma conta na chaminé da Capela Sistina.
Porém, a mensagem final na virada do filme é impecável. O novo Papa Inocêncio, eleito no Conclave, desistiu de fazer a cirurgia de histerectomia laparoscópica sob a justificativa de que se Deus o fez assim, por que mudar? Portanto, o filme tem um roteiro humanista excepcional, uma bela fotografia, interpretações notáveis e a encenação de toda a beleza religiosa contida no ritual católico com seus cantos memoráveis.
Em tempos de ódio e desumanidade fascista, o filme é um alento para refletirmos um pouco sobre o sentido da vida nas andanças por esse planeta azul.