Todos nós temos defeitos e cometemos erros. Muitas vezes por burrice, mas quase sempre tentando acertar. Existe, contudo, uma categoria de gente que faz o mal de propósito e por interesse. Como os autores do PL do estupro, uma das coisas mais abjetas desse novo Brasil pós-bolsonarismo, marcado pela normalização dos discursos de ódio e do absurdo.
Na experiência democrática, de modo geral, a massa tende a optar pelo caminho certo (paz, prosperidade, justiça) quando este fica claro. Por isso que tanto o debate público quanto lideranças notáveis são fundamentais. Se alguém, por qualquer interesse, quisesse levar a sociedade para o outro lado, tinha que manipular. Lobby, violência, controle da mídia, compra de votos… enfim, a história do capitalismo em todo século 20.
A direita existia e era muito poderosa, mas era feio para qualquer um defender as posições de direita, tirando um arrombado ou outro. Vem daí a ideia de que o centro é de direita, porque nos acostumamos a ver a direita disfarçada de centro nas últimas décadas. Esse tempo acabou.
E neste novo tempo, o absurdo é normal. Uma cretina anda com uma referência nazi na cabeça e acha ruim ser chamada de nazi. Aliás, finge que acha ruim. E segue tratada com normalidade pelos colegas, pela população e pela imprensa. Exemplos se repetem, sempre testando limites. Quem ultrapassou e se deu mal foi Roberto Alvim, com seu cosplay de Goebbels. Artista que era, caprichou demais na performance. Se fosse um pouco mais tapado, como seus colegas de ideologia, não reproduziria tão bem a cena e não teria caído.
O que também ultrapassou todos os limites neste novo tempo foi a aprovação da urgência da tramitação do PL do estupro, o mais perversos dos retrocessos em um tempo em que eles não faltam. Se for aprovado, o aborto passa a ser crime equiparado a homicídio, com pena muito maior do que para o crime de estupro. Na prática, pode até permitir que um estuprador assuma a guarda da criança enquanto a vítima do estupro passa décadas na cadeia.
Como disse lá em cima, essa gente faz o mal por maldade e por interesse. Aqui, a ideia é emparedar Lula e minar o governo, atualmente refém do congresso. Se Lula e o STF fizerem o certo, que é não permitir tamanha atrocidade, endossam o discurso dessa extrema-direita de que são contra a vida, nessa inversão total do conceito.
No entanto, mesmo sabendo que o objetivo é emparedar o governo, não consigo deixar de pensar no quanto é pura perversão. Que essa gente quer ver mais estupro, quer que mais meninas e mulheres padeçam pela abuso sexual e suas consequências, que bons médicos sejam punidos por fazer o certo, que vítimas sejam encarceradas enquanto aplaudem algozes.
Ainda não sabemos o que fazer neste novo tempo. Em tom de brincadeira, mas não muito, dizemos que o apocalipse deixou de ser um medo para se tornar uma esperança. Em dia como o de hoje, faz sentido, mas não é o melhor dos sentimentos. Que possamos sempre trocá-lo por indignação e transformá-la em ação.
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Uma resposta
Parabéns Felps pelas sábias palavras, porém numa mensagem que Retrata a triste realidade desse nosso tempo.