Um dia após a inauguração das obras de reurbanização e qualificação da Vigorelli – importante comunidade localizada às margens da Baía da Babitonga – alguns moradores procuraram o Chuville Notícias para pedir melhorias. Até então cerca de 140 famílias viviam sem energia elétrica, alguns com água encanada, mas todos vivendo com o pé na lama e no pó, entre outras dificuldades.
Agora, com as obras concluídas e vendo a movimentação de turistas aumentar, moradores e comerciantes pedem melhorias, sobretudo no sentido das ruas recém-pavimentadas da comunidade. Moradora há mais de dez anos na Vigorelli, Laura Molinari tem um pequeno comércio de alimentos e bebidas em uma das vias laterais, a cerca de 200 metros da orla. Ela afirma que desde as primeiras reuniões entre os moradores e os técnicos da prefeitura de Joinville, não houve conversa onde pudessem ser ouvidos a respeito.
“Em nenhum momento vieram me perguntar o que acharam de deixar a minha rua em sentido único, simplesmente vieram aqui e fizeram sem ouvir ninguém, mesmo com a gente questionando. Isso prejudica um pouco meu comércio, assim como ficou estranho para o pessoal da Toca do Siri, pois na frente dele também não passa mais carro, quando o fluxo poderia tranquilamente dar a volta pela orla, passando depois pelas ruas de trás”, avalia.
Ela também conta que aos fins de semana muitos motoristas têm usado as ruas laterais para estacionar, mesmo sendo vias estreitas, inclusive na rua onde ela mora. “Eu cheguei a improvisar um estacionamento no meu terreno para meus clientes, mas com esses carros parados ali, fica difícil manobrar”, lamenta.
Segundo a prefeitura, os moradores foram ouvidos e não há previsão de nenhuma mudança ou adaptação ao fluxo de trânsito implantado na Vigorelli.
“Não posso mexer na minha casa que está caindo na cabeça”, diz morador
O pedreiro Valmir Heidrickson elogiou as melhorias estruturais da Vigorelli, mas lamenta estar proibido de evitar que sua casa caia. Morador do local há sete anos, conta que precisa reformar sua moradia de forma urgente antes que tudo caia: “Esses dias fui obrigado a colocar um encalço para que tudo não viesse abaixo, mas como vamos fazer se não nos deixam construir nada?”.
A mesma preocupação é dividida pela comerciante Laura: “O pessoal vem aqui, acha tudo bonito, mas critica nossos estabelecimentos porque não reformamos e não evoluímos. Mas nós não podemos e a comunidade precisa entender que a propaganda feita da Vigorelli não levou em conta as limitações que ainda temos“.
Embora a comunidade tenha recebido melhorias consideráveis após a finalização do TAC (Termo de Ajuste de Conduta) entre a prefeitura e o Ministério Público, colocando fim a um impasse judicial de quase 30 anos, ainda é preciso cumprir algumas etapas burocráticas. Entre elas está a escrituração dos imóveis que já estão consolidados.
A previsão é de que a documentação seja liberada dentro de 60 dias. Após este período, os imóveis que até então eram considerados ilegais, serão oficiais e poderão sofrer reformas. Novos lotes estão proibidos, de acordo com a TAC, e a fiscalização para evitar invasões ficou sob responsabilidade da prefeitura de Joinville.