A família do paciente, Hamidreza Nikdelamnab, está acusando o Hospital Municipal São José de negligência por procedimentos que o deixaram inconsciente após quase dois meses em que esteve internado por conta de um AVC. A família é iraniana, mas mora em Joinville há cerca de 20 anos.
Em conversa exclusiva com o Chuville Notícias, a esposa de Hamidreza, Somayeh Safarigavandoghdei Nikdelamnab, conta que o marido sofreu um AVC no dia 29 de janeiro deste ano e foi caminhando consciente até o Hospital São José, considerado referência internacional neste tipo de tratamento. Porém o que aconteceu nos quase dois meses em que ele esteve internado, a deixou indignada. O marido, de 45 anos, ganhou alta no último dia 22/03 tendo como sequela a inconsciência irreversível, dentes quebrados, além de dívidas, afinal o casal está sem renda desde que tudo começou.
“Ele tinha dificuldade de fala, mas ainda estava andando. Hoje só mexe as pernas, dizem que o caso dele é irreversível”, lamenta. Somayeh recebeu esta reportagem em sua casa e mostrou pilhas de prontuários médicos que levou para casa. A cada folha, uma história que ela aponta como “erro”.
“Meu marido tem problema cardíaco e eles sabiam disso, porque quem tem válvula mecânica como ele, as chances de um AVC são maiores. O sangue dele é mais grosso e era preciso tomar uma medicação específica para evitar um novo AVC. Eles não deram esse remédio no tempo certo e logo depois ele teve um novo AVC dentro do hospital. Chegaram a levar ele para a Unimed, em uma sala cirúrgica emprestada, para fazer intervenção emergencial porque o equipamento do São José estava quebrado. Durante todo esse tempo não me deixaram ver o prontuário médico dele”, conta.
Devido à internação, foi preciso entubar o paciente. Porém durante o procedimento, três dentes foram quebrados. “Ninguém me disse nada, eu cheguei lá e constatei que estava faltando dente, perguntei à médica residente e ela disse que sairia nas fezes, porém um exame de raio-x posterior mostrou que um dente estava alocado na garganta e outro no pulmão”, relata Somayeh.
Hamidreza ainda pegou pneumonia no começo de março, o que agravou ainda mais a situação. Segundo a esposa, ele sempre foi um homem forte e nunca teve problema respiratório. Com os prontuários em mãos, ela diz que estão incompletos. “Muita coisa que me disseram lá não consta aqui, tem muita coisa errada e nós vamos processar o hospital, porque o que eles fizeram com meu marido foi negligência”, disse.
Agora as depesas da casa superam R$ 2 mil mensais porque estão sem renda há dois meses. Fraldas e aluguel de cadeira de rodas são necessidades caras. Devido à situação de dependência total do marido, ninguém pode trabalhar.
São José dá outra versão sobre o caso
Segundo nota emitida pela direção do Hospital São José, por meio da assessoria de imprensa da prefeitura, Hamidreza sofreu três AVC’s, mas que somente um foi registrado no dia 30 de janeiro. Os outros dois teriam acontecido em setembro de 2019 e março de 2022. A nota ainda afirma que o paciente recusou internação em 2019, mesmo sendo alertado sobre os riscos que poderiam ocorrer. Já em 2022, Hamidreza teria sido internado por cinco dias, recebendo alta sem sequelas.
Em relação à entubação, a nota enviada admite que se trata de um procedimento “invasivo”, mas que “a equipe do Hospital São José é capacitada para a realização, conforme orientação médica”.
Sobre a medicação que Somayeh afirma não ter sido administrada a tempo, a direção do São José reforça que “o paciente recebeu a medicação para controlar a alteração na coagulação sanguínea”.
A nota também ressalta que, por lei, o paciente tem direito de acessar os prontuários médicos e que uma Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar está atendendo Hamidreza. Mas segundo sua esposa, nada vai trazer seu marido com saúde plena de volta.