Os índios da comunidade Tucumã Deni não tiveram vida fácil desde que chegaram de Manaus e se instalaram em uma área de preservação permanente, no bairro Fátima de Joinville. Hoje moram em uma terra cedida pela União, na rua João Luiz Filho, lateral da BR 280, em Araquari. Segundo o cacique Deni Valdemir Lopes Tavares, depois de conquistar uma área de terra para viver, agora a luta é para ter educação. “Nossa cultura é diferente, nossas crianças não podem perder nosso idioma (Aruá), por isso tem diferença entre uma escola comum e uma escola indígena”, explica ele.
O cacique conta que desde que foram autorizados pela Funai a entrar nas terras onde hoje moram, tem procurado todos os órgãos possíveis para implantar a escola indígena em sua nova comunidade: “Procuramos a prefeitura de Araquari, a Funai, até descobrirmos que a responsabilidade é do governo do estado de Santa Catarina”.
Atualmente as crianças e jovens da comunidade Tucumã Deni estudam na escola indígena Pindoty, que pertence à cultura Guarani. Além de ser longe, o cacique Valdemir explica que são culturas diferentes e que isso não ajuda a preservar sua cultura, pelo contrário. “Tem diferença de idioma, de costumes, se não querem que o índio venda nada nas ruas da cidade grande, por que não dão oportunidade para estudarmos, gerando trabalho e renda?”, questiona.
Educação estadual prometeu 15 dias para resolver, diz cacique
Após várias reuniões envolvendo a prefeitura de Araquari, o Ministério Público Federal, Funai e Secretaria de Estado de Educação, um prazo foi estipulado ainda no ano passado: 15 dias para um parecer. “Disseram que deveríamos construir um espaço onde as crianças poderiam estudar, isso foi feito. A educação do estado veio aqui, prometeram que em 15 dias iam resolver, mas até agora nada”, lamenta o cacique Valdemir.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) foi procurada pelo Chuville Notícias. Por nota, respondeu que encaminhou ofício à Coordenadoria Regional de Educação, com cópia para a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina, pedindo informações detalhadas sobre as ações tomadas para garantir um ensino adaptado, que respeite a língua, cultura e tradições da comunidade Deni da Aldeia Tucumã.
Já a Coordenadora Regional de Educação, Sônia Terezinha Paul, explicou a esta reportagem que o estado tem dado toda a assistência a esta comunidade indígena. “Fornecemos transporte para uma das sete escolas indígenas da nossa região e colocamos à disposição três intérpretes da língua Deni desde o ano passado”, pontua. O Cacique Valdemir afirma que não há três intérpretes, apenas dois.
Segundo Sônia, os jovens Denis são os mais propensos a “perderem o idioma”, porque desde que se instalaram em área de preservação, em Joinville, estudaram em escolas estaduais comuns.
Quando perguntada sobre a implantação de escola na comunidade Tucumã Deni, Sônia respondeu que aguarda a documentação de posse da terra cedida pela União para seguir os trâmites: “Tão logo receberemos estes documentos legais, a gente já consegue encaminhar o que eles precisam”.
Saída de Joinville envolveu polêmica
A mudança de Manaus para Joinville aconteceu em plena pandemia de Covid-19, quando alguns integrantes da comunidade acabaram morrendo por falta de oxigênio. Decidiram vir para cá com a promessa de dias melhores, porém tiveram que sair da cidade abaixo de muita polêmica.
Por estarem em uma área de preservação permanente, suas construções improvisadas foram consideradas irregulares. Assim começou o impasse entre prefeitura, Polícia Militar, Centro de Direitos Humanos, Defensoria Pública da União, Funai e Câmara de Vereadores ainda em 2021. A comunidade acusou a PM de truculência e ameaça de demolição das casas. De fato os imóveis acabaram sendo demolidos e as famílias que ali moravam foram deslocadas.
A DPU também chegou a criticar a posição da Secretaria de Assistência Social de Joinville, por oferecer passagens de retorno a Manaus e cestas básicas.