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OPINIÃO: O Proscrito Bernstein e a Atualização Dialética do Reformismo Humanista

Por Carlos Castro - Jornalista

Redação, Portal Chuville

15 janeiro 2024

editado em 15 janeiro 2024

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Carlos Castro

Opinião por:
Carlos Castro - Jornalista

Sempre tive em mente que as ações políticas requerem uma filosofia assertiva para garantir uma orientação programática adequada ao bem comum de TODO tecido social e assim, evitar erros e distorções que coloquem o movimento a se perder. Uma filosofia errada no momento certo, pode permitir uma vitória, mas essa terá prazo de validade, além do tripudio adversário quando o triunfo ruir e, sem dúvida, irá ruir.

Um princípio imperioso para o acerto filosófico é fazer a leitura dialética da realidade com suas teses e antíteses para extração da síntese. Com todo o conhecimento histórico e o fácil acesso às informações, aos pensadores clássicos e contemporâneos que temos hoje, não tem sentido o contínuo cometimento dos mesmos erros que assistimos incrédulos. A única explicação é a preguiça intelectual, ou entendimento linear, a soberba ou a capitulação para impedir a reflexão crítica e analítica na correção de rumos, seja teórico ou prático.

Tive a oportunidade de conhecer a filosofia marxista e socialista, lendo, estudando e debatendo seus grandes autores como Karl Marx, Friedrich Engels, Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Antônio Gramsci, Gyorgy Lukacs, entre outros. Tomei conhecimento de boa parte do conteúdo desses autores. Mas todo autor deve ser lido e compreendido em seu tempo e temos que ter os olhos na Esfinge que pretendia o tempo todo lhes devorar. Ou seja, quais foram as respostas que deram conta sobre as perguntas que não queriam calar e a realidade que desafiava a evolução humana naquele momento histórico.

O que não podemos é transformar o conteúdo desses autores revolucionários em doutrina dogmática e intocável. Nesse sentido, há um autor proscrito nas formações marxistas. Trata-se de Eduard Bernstein, contemporâneo de Marx e Engels, amigo pessoal deste, sendo um dos principais dirigentes e teóricos da Social Democracia alemã e que viveu um contexto histórico diferente de quando os dois revolucionários alemães escreveram suas teses. A não revisão teórica tende a se tornar um “dogma religioso” de uma “seita sectária”. O revisionismo de Bernstein com seu “Socialismo Evolucionário” não foi “um raio em céu azul”. Foi expressão de boa parte das lideranças no interior da social democracia europeia, incomodadas com o caráter “arcaico” da elaboração de Marx para uma orientação partidária assertiva frente ao novo momento político que estavam vivendo.

Outro fator de análise, no meu entendimento, é que os fatos ocorridos não podem ser apontados como certos ou errados. Não podem ter juízo de valor depois do ocorrido, porque as circunstâncias históricas levaram a que fossem da forma como foram, para “o bem ou para o mal”. O que podemos fazer sim é procurar entender o porquê dos acontecimentos, qual o aprendizado a tirar e como podemos extrair o que teve de bom e de ruim para os dias de hoje. Emitir juízo de valor adentra a seara da especulação, “e se fosse assim, e se fosse assado”, porém, “os quase” não vão mudar nada o que já aconteceu. Nos resta, portanto, é avaliar criticamente e absorver o aprendizado.

Os jovens Marx e Engels, em meados do Século XIX, viveram sob as consequências históricas e nefastas da acumulação primitiva do Capital, onde os seres humanos como trabalhadores viviam piores que os escravos, já que estes tinham cama, comida e roupas bancadas pelos seus senhores. Já como trabalhadores tinham salários miseráveis oriundos do trabalho e da exploração por 18 horas diárias sem qualquer direito social. Eram comuns mutilações e mortes de operários que desmaiavam e dormiam sobre as máquinas. Portanto, é compreensível e aceitável a indignação e a radicalização teórica dos autores que dirigiram o processo organizativo dos trabalhadores na formação embrionária de seus sindicatos e partidos com suas teses teóricas revolucionárias. Marx não cometeu qualquer erro conceitual na formulação de sua teoria da luta de classes e da revolução. O momento em que viveu exigiu dele as medidas propostas. Sua genialidade intelectual esmiuçou os meandros do modo de produção capitalista, que é motivo de estudo até hoje na economia política de universidades sérias no mundo todo. Mas como já está dito, todo o autor deve ser lido e estudado no tempo em que viveu, então é mister que parte de seus conceitos sejam revistos à medida que a situação evolui para patamares sociológicos e econômicos diferentes.

Entendo que o chamado reformismo de Bernstein, contido na sua tese do “Socialismo Evolucionário”, bem como o contexto de sua vida como dirigente social democrata exposto no texto “Eduard Bernstein e a Social Democracia”, da professora universitária Joana El Jaick Andrade – texto que originou esse artigo – deve ser lido e estudado para que possa contribuir na elaboração de uma filosofia atualizada e assertiva para enfrentar o momento confuso em que vivemos na ascensão do neofascismo no Brasil e no mundo.

O contexto político reacionário que vivemos foi gerado por muitos erros cometidos pelos comunistas, socialistas e social democratas, de terem capitulado ao modelo neoliberal, principalmente após a queda do Muro de Berlim, em 1989. Banqueiros passaram a entupir suas contas bancárias com a riqueza sangrada dos orçamentos nacionais, restando as migalhas para o povo que paga os impostos. Basta ver que o orçamento da União no Brasil em 2024 vai destinar aos banqueiros, R$ 2.477.406,020,00 (dois TRILHÕES, quatrocentos e setenta e sete BILHÕES, quatrocentos e seis MILHÕES e 20 mil reais) equivalente a quase 50% do orçamento, um completo descalabro, mas motivo de comemoração do baronato da Faria Lima. Lula III sozinho jamais vai conseguir mudar essa realidade.

Outro fator do avanço reacionário e neofascista foi o abandono do trabalho de base e da formação de quadros. A consciência política não ocorre por osmose. Essa foi uma concepção infantil dos revisionistas que precisa ser corrigida. Para eles, o socialismo seria fruto da própria extensão e consolidação da DEMOCRACIA. Ledo engano. A consciência de classe é um processo que precisa ser entendido pelos dirigentes da mudança. Da consciência em si, para si, é preciso ter movimento teórico e prático de lutas reivindicatórias econômicas e políticas – a PRAXIS revolucionária. Já dizia Rosa Luxemburgo, “quem se movimenta, sente as grades que o cerca”.

Os agentes da mudança precisam se debruçar sobre as teorias filosóficas, sociais e econômicas vigentes, seja do campo socialista ou liberal, para uma releitura crítica e necessária atualização contendo suas sínteses programáticas a serem absorvidas no movimento da transformação. Além da ocupação teórica, precisamos retomar o trabalho de base. O professor e jurista, Alysson Mascaro propõe o modelo dos Centros Culturais e Socialistas nos bairros pra levar atividade cultural (teatro, cinema, exposições artísticas, etc.), palestras e debates educativos sobre os autores socialistas e organização de luta pelas reivindicações. Os partidos precisam organizar atividades de formação política, com os melhores quadros teóricos, aproveitando o formato virtual que temos hoje.

Sejamos os “trabalhadores da última hora” para que haja avanço humanista e não reacionário, ao mundo melhor que nossos corações desejam que se manifeste no horizonte para além da sociedade capitalista. A Esfinge voltou à ativa e se não tivermos respostas adequadas ela vai nos devorar.

 

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